Pôr do Sol em Campos do Jordão. Foto iap

PERFECTIBILIDADE DOS ESPÍRITOS

 (Mensagem do Espírito Moki - Revista Espírita de 1866).

     Se os Espíritos ou almas se melhoram indefinidamente, conforme o Espiritismo, devem tornar-se infinitamente aperfeiçoados ou puros. Chegados a esse grau, porque não são iguais a Deus?

     - O homem é uma criatura realmente singular! Sempre acha o seu horizonte muito limitado. Quer tudo compreender, tudo captar, tudo conhecer! Quer penetrar o insondável e despreza o estudo do que lhe toca imediatamente; quer compreender Deus, julgar os seus atos, fazê-lo, justo ou injusto; disse como se queria que ele fosse, sem suspeitar que ele é tudo isto e mais ainda!... Mas, verme miserável algum dia compreendeste de modo absoluto algo do que te cerca? Sabes por que lei a flor se colora e se perfuma aos beijos vivificantes do sol? Sabes como nasces, como vives e porque teu corpo morre?... - Tu vês fatos, mas as causas para ti ficam envoltas num véu impenetrável e querias julgar o princípio de todas as coisas, a causa primeira, Deus enfim! - Há muitos outros estudos mais necessários ao desenvolvimento de teu ser, que merecem toda a tua atenção!...

      Quando resolves um problema de álgebra não vais do conhecido para o desconhecido e, para compreender Deus, esse problema insolúvel desde tantos séculos, queres dirigir-te a ele diretamente! Então tendes todos os elementos necessários para estabelecer uma tal equação? Não te falta algum documento para julgar teu criador em última instância? Não vais crer que o mundo seja limitado a esse grão de poeira, perdido na imensidade do espaço, onde te agitas mais imperceptível que o menor dos infusórios de que o universo é uma gota d’água? - Contudo, raciocinemos e vejamos porque, conforme teus conhecimentos atuais, Deus seria injusto não se deixando jamais atingir por sua criatura.

     Em todas as ciências há axiomas ou verdades irrecusáveis, que se admitem como bases fundamentais. As ciências matemáticas e, em geral, todas as ciências, são baseadas no axioma de que a parte jamais poderia igualar o todo. O homem, criatura de Deus, segundo esse princípio, jamais poderia atingir aquele que o criou.

     Suponde que um indivíduo tenha que percorrer uma estrada de extensão infinita. De uma extensão infinita, pesai bem a expressão. Aí está a posição do homem em relação a Deus, considerado o seu fim.

     Dir-me-eis que, por pouco que se marche, a soma dos anos e dos séculos de marcha permitirá atingir o fim. É erro!... O que fizerdes em um ano, um século, um milhão de séculos, será sempre uma quantidade finita e, assim, por diante. Ora, para o mais noviço matemático, uma soma de quantidades finitas jamais formará uma quantidade infinita. O contrário seria absurdo e, neste caso, poderia medir-se o infinito, o que o faria perder a sua qualidade de infinito. - O homem progredirá sempre e incessantemente, mas em quantidade finita; a soma de seus progressos não será jamais senão de uma perfeição finita, que não poderia atingir a Deus, o infinito em tudo. Não há, pois, injustiça da parte de Deus em que suas criaturas jamais o possam igualar. A natureza de Deus é um obstáculo intransponível a um tal fim do Espírito; sua justiça não poderia permiti-lo, porque se um Espírito atingisse a Deus, seria o próprio Deus. Ora, se dois Espíritos são tais que tenham ambos o mesmo poder infinito em todos os respeitos e um seja idêntico ao outro, confundem-se num só e não haverá mais que um Deus. Um deveria, pois, perder a sua individualidade, o que seria uma injustiça muito mais evidente do que não poder atingir um fim infinitamente distanciado, mesmo dele se aproximando constantemente. Deus faz bem o que faz e o homem é demasiadamente pequeno para se permitir pesar as suas decisões. 

 Obs. de Kardec: “Se há um mistério insondável para o homem, é o princípio e o fim de todas as coisas. A visão do infinito lhe dá vertigem. Para o compreender, são necessários conhecimentos e um desenvolvimento intelectual e moral, que está longe de possuir ainda, malgrado o orgulho que o leva a julgar-se chegado ao topo da escala humana. Em relação a certas ideias, ele está na posição de uma criança que quisesse fazer cálculo diferencial e integral, antes de saber as quatro operações. À medida que  avançar  para  a perfeição, seus olhos abrir-se-ão à luz, e a névoa que os cobre dissipar-se-á. Trabalhando seu melhoramento presente, chegará mais cedo do que se perdendo em conjecturas”.

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