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PROBLEMAS SOBRE O SUICÍDIO

     (Respostas do Espírito São Luís - Revista Espírita de 1858).

     Por que motivo o homem, que tem a firme intenção de se matar, revoltar-se-ia contra a ideia de ser morto por um outro e defender-se-ia contra os ataques, no mesmo instante em que vai cumprir o seu desígnio?

     - Porque o homem tem sempre medo da morte. Quando se suicida, está superexcitado, com a cabeça transtornada, e realiza esse ato sem coragem nem medo e, por assim dizer, sem ter conhecimento do que faz; ao passo que se lhe fosse dado raciocinar não veríamos tantos suicídios. O instinto do homem o leva a defender a própria vida e, durante o tempo que decorre entre o momento em que o seu semelhante se aproxima para o matar e o momento em que o ato é cometido, tem ele sempre um movimento de repulsa instintiva da morte; e este o leva a repelir esse fantasma, só apavorante para um Espírito culposo. O homem que se suicida não experimenta tal sentimento porque se acha cercado de Espíritos que o impelem, que o ajudam em seus desejos e lhe fazem perder completamente a lembrança do que não seja ele mesmo, isto é, dos pais, daqueles que o amam e de uma outra existência. Nesse momento o homem é todo egoísmo.

     - Aquele que, desgostoso da vida, mas não quer suicidar-se e deseja que sua morte sirva para alguma coisa será culpado se a buscar no campo de batalha, defendendo o seu país?

     - Sempre. O homem deve seguir o impulso que lhe é dado. Seja qual for a vida que leve, é sempre assistido por Espíritos que o conduzem e o dirigem, mau grado seu. Ora, procurar agir contra os seus conselhos é um crime, pois que aqueles aí estão para nos dirigir e, quando queremos agir por nós mesmos, esses bons Espíritos estão prontos a ajudar-nos. Entretanto, se o homem, arrastado por seu próprio Espírito, quer deixar esta vida, é abandonado; mais tarde reconhece que terá de recomeçar uma outra existência. Para elevar-se, deve o homem ser provado. Parar a sua ação, pôr um entrave em seu livre-arbítrio seria ir contra Deus e, neste caso, as provas tornar-se-iam inúteis, porque os Espíritos não cometeriam faltas. O Espírito foi criado simples e ignorante; então, para chegar às esferas felizes, é necessário elevar-se em Ciência e em sabedoria e é somente na adversidade que adquire um coração elevado e melhor compreende a grandeza de Deus.

     - Um dos assistentes observou que notava uma contradição entre estas últimas palavras de São Luís e as precedentes, quando disse que o homem pode ser arrastado ao suicídio pelos Espíritos que a isto o excitam. Neste caso cederia a um impulso estranho.

      - Não existe contradição. Quando disse que o homem impelido ao suicídio era cercado de Espíritos que a isto o solicitavam, não me referia aos bons Espíritos, que fazem todo esforço para o evitar; isto deveria estar subentendido; sabemos todos que temos um anjo da guarda ou, se proferis, um guia familiar. Ora, o homem tem o seu livre-arbítrio; se, a despeito dos bons conselhos que lhe são dados, persevera nesta ideia criminosa, ele a realiza, no que é ajudado pelos Espíritos levianos e impuros, que o cercam e que se sentem felizes por ver que ao homem, ou Espírito encarnado, também falta a coragem para seguir conselhos de seu bom guia, por vezes de Espíritos de parentes mortos que o rodeiam, sobretudo em circunstâncias semelhantes. 

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