Blaise Pascal - Museu do Louvre.  

     Pascal. Matemático, físico, filósofo e escritor francês. (1623 - 1662).

 

A VERDADE

 (Comunicação do Espírito Blaise Pascal - Revista Espírita 1865)       

     A verdade, meu amigo, é uma dessas abstrações para as quais tende o espírito humano incessantemente, sem jamais poder atingi-la. É preciso que ele tenda para ela, é uma das condições do progresso, mas sua natureza imperfeita e só por isso que é imperfeita, não poderia alcançá-la. Seguindo a direção que segue a verdade em sua marcha ascendente, o espírito humano está na via providencial, mas não lhe é dado ver o seu termo.

     Compreender-me-ás melhor quando souberes que a verdade é, como o tempo, dividida em duas partes, pelo momento inapreciável que se chama o presente, a saber: o passado e o futuro. Assim, também há duas verdades: a verdade relativa e a verdade absoluta. A verdade relativa é o que é; a verdade absoluta é o que deveria ser. Ora, como o que deveria ser sobre por graus até a perfeição absoluta, que é Deus, segue-se que, para os seres criados e seguindo a rota ascensional do progresso, só há verdades relativas. Mas porque uma verdade relativa não é imutável, não é menos sagrada para o ser criado.

     Vossas leis, vossos costumes, vossas instituições são essencialmente perfectíveis e, por isto mesmo, imperfeitas; mas suas imperfeições não vos libertam do respeito que lhes deveis. Não é permitido adiantar-se ao seu tempo e fazer leis fora das leis sociais. A humanidade é um ser coletivo, que deve marchar, senão em seu conjunto, ao menos por grupos, para o progresso avançar como criança perdida, para verdades novas, sofre sempre em vossa terra a pena devida à sua impaciência. Deixai de proclamar as leis do futuro, submetendo-se à do presente. Deixai a Deus, que mede vossos progressos pelos esforços que houverdes feito para vos tornardes melhores, o cuidado de escolher o momento que julga útil para uma nova transição, mas não vos subtraiais nunca a uma lei senão quando ela for derrogada.

     Porque o Espiritismo foi revelado entre vós, não creiais num cataclismo das instituições sociais; até esse dia ele terá realizado uma obra subterrânea e inconsciente para aqueles que eram seus instrumentos. Hoje que ele aflora ao solo e chega à luz, a marcha do progresso, nem por isso, deve ser de uma lenta regularidade. Desconfiai dos Espíritos impacientes, que vos impelem para as vias perigosas do desconhecido. A eternidade que vos é prometida deve levar-vos a ter piedade das ambições tão efêmeras da vida. Sede reservados até suspeitar, por vezes, da voz dos Espíritos que se manifestam.

     Lembrai-vos disto: O Espírito humano se move e se agita sob a influência de três causas, que são: a reflexão, a inspiração e a revelação. A reflexão é a riqueza de vossas lembranças, que agitais voluntariamente. Nela o homem encontra o que lhe é rigorosamente útil para satisfazer as necessidades de uma posição estacionária. A inspiração é a influência dos Espíritos extraterrenos, que se mistura mais ou menos às vossas próprias reflexões, para vos impelir ao progresso; é a ingerência do melhor na insuficiência da passagem; é uma força nova, que se junta a uma força adquirida, para vos levar mais longe que o presente; é a prova irrecusável de uma causa oculta que vos impele para a frente, e sem a qual ficaríeis estacionários; porque é regra física e moral que o efeito não poderia ser maior que sua causa, e quando isto acontece, como no progresso social, é que uma causa ignorada, não percebida, juntou-se à causa primeira de vosso impulso. A revelação é a mais elevada das forças que agitam o espírito humano, porque vem de Deus e só se manifesta por sua vontade expressa; ela é rara, por vezes mesmo inapreciável, algumas vezes evidente para o que a experimenta a ponto de sentir-se involuntariamente tomado de santo respeito. Repito, ela é rara e ordinariamente dada como uma recompensa à fé sincera, ao coração devotado. Mas não vades tomar como revelação tudo quanto vos pode ser dado como tal. O homem exibe a amizade dos grandes, os Espíritos exibem uma permissão especial de Deus, a qual muitas vezes lhe falta. Algumas vezes fazem promessas que Deus não ratifica, porque só ele sabe o que é e o que não é preciso.

     Eis, meu amigo, tudo quanto te posso dizer sobre a verdade. Humilha-te ante o Grande Ser, por quem tudo vive e se move na infinidade de mundos, que seu poder rege; pensa que se nele se acha toda a sabedoria, toda a justiça e todo o poder, nele também se acha toda a verdade. 

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