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ASTRO DE LUZ

(Espírito Victor Hugo - Obra: Párias em Redenção - Médium: Zilda Gama).           

Nota do compilador: Trecho que descreve a recepção no Plano Espiritual Superior, de um espírito que havia vencido etapas difíceis quando encarnado.

     Abeiravam-se agora de um astro de fascinante beleza, como que lavorado em turqueza luminosa, volteando no Espaço, nimbado de uma fotosfera azul, de suavidade veludosa.

     Destacavam-se nele os perfis dourados das serranias, recortes de minaretes, que se salientavam na luminosidade que o circundava, como se fossem filigranas de ouro e turmalinas mágicas...

     Uma sinfonia, executada por maestros celestes, evolava-se do ambiente fosforescente, acompanhada em surdina por verdadeiros menestréis encantados, em volatas dulcíssimas de rouxinóis divinizados.

     - Eis uma das estâncias de repouso destinadas aos vencedores das refregas planetárias, dos convertidos ao Bem, dos libertos do Mal! - murmurou o Guia espiritual de Dusmenil. - Penetremos nesse ambiente onde nos aguardam com júbilo.

     - Como sabem da nossa vinda, amado Mestre?

     - Pois já não to disse, irmão querido? Por meio da radiofonia universal do pensamento. Nos mundos inferiores as ideias e as notícias, para serem ventiladas, são gravadas no papel, constituem livros, jornais, revistas; nos superiores são transmitidas através das maiores distâncias. Formam como que um vínculo radioso, onde se veem fotografias lúcidas - ligando incessantemente os seres evoluídos, e, onde quer que estejam, esse liame não se rompe e os põe em contato uns com os outros: basta um pensamento emitido por eles, solicitando a presença de algum, para que os seus irmãos de igual categoria, dispersos pelo Cosmos, logo os compreendam e atendam ao fraternal apelo.

     Baixaram docemente sobre a formosa região, indescritível na linguagem humana.

     O solo se constituía de extensas planícies e serranias imponentes, como em algumas paragens do orbe terráqueo, mas a sua contextura não se lhes podia comparar: dir-se-ia de turmalinas azuis, impregnadas de fagulhas douradas! Surgiam solares encantadores, separados apenas por pequenos intervalos, aformoseados por ondulações azuis e jalde, como tauxiados de safiras e topázios, de cintilações incessantes. Essas graciosas vivendas, esguias e fulgurantes, são arquitetadas com preciosos minérios, dos quais há na Terra apenas migalhas, e, lá, se encontram em blocos descomunais, onde se talham as mansões das Entidades triunfantes nas campanhas do Bem!    

     Separavam-nas muralhas - que não servem para as desligar, mas para as embelezar - em que predominavam as linhas curvas, parecendo que do solo se erguiam vagalhões azuis, franjados de áurea espuma, como que petrificados em filigranas maravilhosas.

     Inefável bem-estar empolgou o Espírito de Dusmenil, emocionado pela esperança de, em poucos instantes, rever os entes pelos quais tanto sofrera.

     De relance recordou todas as cenas de ventura e desdita de que se compunham suas existências indelevelmente vinculadas entre si...

     Revê-los, poder transmitir-lhes seus pensamentos, traduzir a ternura e a saudade que lhe iam nalma, seria a ventura suprema, a recompensa a todas as dores, agonias e tormentos pregressos.

     Detiveram-se no solo em que deslizavam multidões de criaturas esbeltas, de vestes multicores, semelhantes às dos antigos augustais romanos, de plumas de gaze luminosa, escumilhas de suavíssimos tons, com fragmentos de arco-íris transformados em túnicas vaporosas.

     Todos formavam alas, braços erguidos empunhando flores etéreas, que pareciam tecidas em névoas, com todos os matizes dos crepúsculos e arrebóis tropicais, deliciosamente perfumadas, a embalsamar o ambiente.

     Movimentavam-se airosamente, com graciosos ademanes, ao som de formosa melodia arrancada de instrumentos esguios, liras como asas de falenas de ouro, lembrando cotovias que sonhassem idílios venturosos.

     Todas as moradas resplandeciam em faiscações policrômicas, como que moldadas em gemas rútilas, por arquitetos divinos.

     Um palácio de forma circular, encimado por zimbório de translúcidos topázios, destacava-se dos outros edifícios por sua primorosa escultura.

     - É aqui - disse o Cireneu de Gastão - que se congregam as mais puras e formosas Entidades, a fim de festejarem a recepção dos recém-libertados das encarnações planetárias, antes de lhes serem designadas excelsas missões espirituais.

     Depois, abraçando-o fraternalmente, disse:

     - Vamos tomar parte no emocionante festival que, hoje, aqui celebram em homenagem ao exilado que chega da Terra sombria, depois de longa e vitoriosa cruzada.

     Não me julgo digno de assistir a ele - respondeu Gastão comovido, como se estivesse prestes a desmaiar, fitando as vestes imáculas dos convivas.

     Esbelto mancebo (como aliás o são todos os habitantes siderais, pois a infância e a senectude são fases transitórias do gênero humano, inexistentes nas mansões superiores, onde predomina a juventude eterna, aspiração de todos os que se acham nos mundos de trevas e não se resignam a perdê-la em poucos anos!) dirige-se ao recém-chegado e, osculando-o na fronte, falou:

     Irmão bem-amado, eu te saúdo como vitorioso do Mal!

     - Não mereço vossas felicitações, formoso mancebo, pois arrependo-me de não haver mais bem cumprido meus deveres terrenos!

     Venceste nobremente as campanhas morais, algumas intensamente dolorosas; bem mereces o acolhimento fraterno que os teus amigos te preparam!

     Vexo-me de comparecer a tão seleta reunião com estes trajes incolores, que me parecem rotos e sujos, em confronto com os vossos...

     - Podes ter outros, desde que o queiras e não estejam em desacordo com a tua hierarquia espiritual. Concentra-te e idealiza a indumentária que desejas, pois o pensamento dos redimidos é força realizadora, desconhecida na Terra, porque aos grilhetas da dor não é permitido possuí-la, para não ser utilizada na vingança e no mal, e prontamente a obterás.

     Dusmenil obedeceu. Sua túnica singela e desbotada se desfez qual bruma, e outra, regiamente embelecida ao influxo da vontade, substituiu-a, parecendo talhada em crepúsculo de inverno, com tonalidades de ametistas.

     Todas aquelas Entidades, airosas e jovens, de fisionomias graves e nobres, entraram a fazer evoluções encantadoras, e suas roupagens multicores semelhavam flores que bailassem e formassem guirlandas maravilhosas e frases simbólicas, fragmentos de preces ao Criador.

     Pela mão de desvelado Mentor, Dusmenil penetrou no majestoso delubro onde se recebiam os conversos ao Bem.

     Festões de flores luminosas ornavam colunas de cristal, de todas as nuanças, que circulavam vastíssimo salão. Uma tribuna lavorada em jaspe rendilhado, parecendo de espuma petrificada, elevava-se ao centro do anfiteatro, onde se congregavam para os soleníssimos festivais. Um belo orador já se achava na tribuna e a todos os assistentes sobrepujava, em formosura e radiosidade. Dir-se-ia que, da sua fronte e tórax, jorrava uma luminosidade de luar opalino, a confundir-se com a do recinto florido e suave.

     Quando ele, alongando o olhar e erguendo os braços em prece, evocou a bênção divina, rompeu-se um velário de escumilha dourada e patenteou-se uma orquestra de inúmeros executantes, de vestes níveas, preludiando em surdina uma protofonia tão emocionando e inefável, que Dusmenil inebriado e sensibilizado caiu de joelhos soluçante, recordando naqueles momentos de magnitude um recanto da Terra, um templo de Arras, onde ouvira o gorjeio do Rouxinol Mascarado.

     Alçou-o nos braços o mancebo que o recebera e convidou-o a orar com os circunstantes.

     De todas as frontes em profunda concentração, desprendiam-se eflúvios argentinos, que formavam sonoridades melodiosas, às quais se conjugavam os instrumentos musicais que resplandeciam na ribalta.

     Vocalizações de rouxinóis divinos entoavam um salmo comovente, que vibrou estranhamente na alma sensibilíssima de Dusmenil.

     Quando ressoaram, docemente, os últimos acordes da prece surpreendente, osculou-lhe a fronte o lindo jovem que o saudara, seguido de uma entidade feminina, que o imitou.

     Ladearam-no ambos, com os braços elevados à sua fronte, empunhando uma grinalda de lilases com reflexos dourados.

     Gastão, que parecia prestes a desfalecer de emoção, percebeu lucidamente naquelas duas entidades maravilhosas de nobreza e formosura, por uma sensação de ternura infinita, Renê e Heloísa espiritualizados, belos, quintessenciados...                                          INÍCIO

NEM SÓ O HOMEM PROJETA SOMBRA. TUDO TEM ATRÁS E ADIANTE UMA SOMBRA, ATÉ O MÍSERO CALHAU. TUDO TEM ALMA QUE VIVE, JÁ VIVEU E VIVERÁ!

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