CORPO ESPIRITUAL

 

RECORDAÇÕES DO PASSADO                                                                                                         

O NASCIMENTO 

(Léon Denis - Obra: O Grande Enigma)

     A união da Alma e do corpo começa com a concepção e só fica completa na ocasião do nascimento. É o invólucro fluídico que liga o Espírito ao gérmen; essa união se vai apertando cada vez mais, até tornar-se completa, e isto se dá quando a criança vê a luz do dia terrestre. No intervalo da concepção ao nascimento, as faculdades da Alma vão, pouco a pouco, sendo aniquiladas pelo poder sempre crescente da força vital recebida dos geradores, que diminui o movimento vibratório do perispírito, até o momento em que o Espírito na criança fica inteiramente inconsciente. Esta diminuição vibratória do movimento fluídico produz a perda da lembrança das vidas anteriores, de que breve trataremos.

     O Espírito na criança dormita em seu invólucro material, e, à medida que se aproxima o nascimento, suas ideias se apagam, e, assim, o conhecimento do passado, de que não tem mais consciência quando abre os olhos à luz do dia. Essa consciência só voltará quando, pela desmaterialização final ou pelas influências profundas da exteriorização, na hipnose, a Alma retomar seu movimento vibratório e encontrar seu passado e o mundo adormecido de suas recordações. Eis a verdadeira gênese da vida humana.

     As aquisições do passado são latentes em cada Alma: as faculdades não se destroem; têm raízes no inconsciente e sua aparência depende do progresso anteriormente capitalizado, dos conhecimentos, das impressões, das imagens, do saber e da experiência. É o que constitui o “caráter” de cada indivíduo vivo e lhe dá as aptidões originais e proporcionais a seu grau de evolução.

     A criança adquire de seus pais apenas a força vital, à qual é preciso ajuntar certos elementos hereditários. Por ocasião da encarnação, o perispírito se une, molécula por molécula, à matéria do gérmen. Nesse gérmen, que deve mais tarde constituir o indivíduo, reside uma força inicial, que resulta da soma dos elementos de vida do pai e da mãe, no momento da geração. Esse gérmen contém uma energia potencial maior, ou menor, que, transformando-se em energia ativa, durante o período total da vida, determina o grau de longevidade do ser.

     É, pois, sob a influência dessa força vital, emanada dos geradores, que, por sua vez, a recebem dos antepassados, que o perispírito desenvolve suas propriedades funcionais. Assim, o duplo fluídico reproduz, sob a forma de movimentos, o traço indelével de todos os estados da Alma, desde seu primeiro nascimento; por outra parte, o gérmen material recebe a impressão de todos os estados sucessivos do perispírito: há aí um paralelismo vital absolutamente lógico e harmonioso. Torna-se assim o perispírito o regulador e o apoio da energia vital modificada pela hereditariedade. É por aí que se forma o tipo individual de cada um. Ele é o “mediador plástico” do filósofo escocês Wordsworth, a tessitura fluídica permanente, através da qual passa a torrente da matéria fluente que destrói e reconstrói incessantemente o organismo vivo. É a armadura invisível que sustém interiormente a estátua humana.

     O perispírito é o princípio de identidade física e moral que mantém, indefectível, no meio das vicissitudes do ser móvel e mutável, o princípio do “eu” consciente. A memória que nos dá a certeza íntima de nossa identidade pessoal é a irradiação reflexa desse perispírito.

     Tal é a origem de nossa vida.

     Em realidade, somos unicamente filhos de nós próprios. Os fatos aí estão para confirmar tal asserção. Os filósofos do século XVIII, com seu sistema da alma, comparada a uma tábua rasa, sobre a qual nada ainda existe escrito, estão, pois, enganados. Os doutores do generacionismo estariam mais perto da verdade; exageraram, entretanto, o alcance de sua doutrina, e assim suas conclusões.

     Cada encarnação perispiritual introduz, sem dúvida, modalidades novas na alma da criança, que reedita sua vida; mas, encontra o terreno já cultivado para isso. Platão tinha razão quando dizia: - “Aprender é recordar-se.”

     Assim se explicam os fenômenos de cultura e a fisiologia dos grandes gênios de que fala a História: a ciência dominante de Pico de la Mirandola1; a intuição de Pascal2, reconstituindo, aos treze anos de idade, os teoremas de Euclides; Mozart, compondo, com a idade de doze anos, uma de suas obras mais célebres.

     Pode suceder, entretanto, que as leis de hereditariedade embaracem a manifestação do gênio, porque o Espírito molda o seu corpo, mas só se pode servir dos elementos postos à sua disposição por essa hereditariedade.

     O que acabamos de dizer basta, por enquanto, para justificar cientificamente a doutrina luminosa das vidas sucessivas. (Léon Denis - Obra: O Grande Enigma). 

NOTAS DO COMPILADOR: 1 - Giovanni Pico Della Mirandola = humanista italiano 1463-1491 - destacou-se pela precocidade e pela extensão de seus conhecimentos, bem como pela audácia das suas teses em filosofia e teologia: queria provar a convergência de todos os sistemas filosóficos e religiosos para o cristianismo. 2 - Blaise Pascal - matemático, físico, filósofo e escritor francês - 1623-1662. Aos 16 anos escreveu "Ensaio sobre as cônicas; aos dezoito anos, inventou uma máquina de calcular. Devem-se-lhe as leis da pressão atmosférica e do equilíbrio dos líquidos, o triângulo aritmético, o cálculo das probabilidades, a prensa hidráulica, a teoria da cicloide. A partir de 1654 passou a viver asceticamente. Atacou violentamente os jesuítas. No plano moral, orientou o pensamento de seu século para o estudo das imperfeições e dos vícios.     

 PRÓXIMO                                                                                             INÍCIO

QUANDO O HOMEM ORA CONTRITAMENTE IMPREGNA-SE DE ESPERANÇA E ANTEVÊ OS DIAS DO PORVIR RISONHO QUE O AGUARDA, APÓS VENCIDA A BATALHA INGENTE CONTRA AS TORPEZAS QUE O LIMITAM E JUNGEM À DOR