Flor do Cerrado do Brasil - Foto iap

DESPEDIDA FELIZ  

      (Autor: Léon Denis - Obra: O Problema do ser, do destino e da dor)                     

     O Dr. Paul Edwards escrevia, em abril de 1903, ao diretor de “Light”, de Londres:

     “Aí por volta do ano de 1887, quando eu habitava uma cidade da Califórnia, fui chamado para junto da cabeceira de uma amiga a quem dedicava grande estima e que se achava na hora extrema, em consequência de uma doença do peito. Toda gente sabia que essa mulher pura e nobre, essa mãe exemplar estava votada a morte iminente. Ela acabou também por assim o compreender e quis então preparar-se para o grande momento. Tendo mandado vir os filhos para junto do leito, beijava ora um, ora outro, mandando-os depois retirar. O marido aproximou-se por último para dar-lhe e receber o adeus supremo. Achou-a na plena posse das suas faculdades intelectuais. Ela começou por dizer:

     - Newton (era o nome do marido), não chores, porque eu não sofro e tenho a alma pronta e serena. Amei-te na Terra; continuarei a amar-te depois de partir. É meu intento vir até ti, se me for possível; se não puder, velarei do céu por ti, por meus filhos, esperando a tua vinda. Agora, o meu mais vivo desejo é ir-me embora... Avisto algumas sombras que se agitam em volta de nós... todas vestidas de branco... Ouço uma melodia deliciosa... Oh! aí está a minha Sadie! Está perto de mim e sabe perfeitamente quem eu sou. (Sadie era uma filhinha que ela perdera havia dez anos.)

     - Sissy - disse-lhe o marido - minha Sissy, não vês que estás sonhando?!

     - Ah! meu caro - respondeu a doente -, por que me chamaste? Agora, custar-me-á mais a ir-me embora. Sentia-me tão feliz no Além, era tão delicioso, tão belo!

     Três minutos depois, aproximadamente, acrescentou a agonizante:

     - Vou-me novamente embora e, desta vez, não voltarei, ainda que me chames.

     Durou esta cena oito minutos. Via-se bem que a agonizante gozava da visão completa dos dois mundos ao mesmo tempo, porque falava das figuras que se moviam ao seu derredor no Além, e, simultaneamente, dirigia a palavra aos mortais deste mundo... Nunca me sucedeu assistir a morte mais impressionante, mais solene.”                                                                                                                                       PRÓXIMO                                                                                                                              INÍCIO