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O DESPERTAR DO ESPÍRITO

(Mensagem do Espírito Georges - Revista Espírita de 1860)

     Quando o homem abandona os despojos mortais, experimenta um espanto e um deslumbramento que o deixam por algum tempo indeciso quanto ao seu real estado; não sabe se está vivo ou morto, e suas sensações, muito confusas, demoram bastante a esclarecer-se. Pouco a pouco, os olhos do Espírito ficam deslumbrados por diversas claridades que o cercam, e ele acompanha toda uma ordem de coisas, grandes e desconhecidas, que ele de início tem dificuldade de compreender, mas em breve reconhece que não passa de um ser impalpável e imaterial; procura seus despojos e se espanta por não os encontrar; passa-se algum tempo antes que lhe venha a memória do passado e o convença de sua identidade. Olhando a Terra, que acaba de deixar, vê os parentes e amigos que o choram, como vê o corpo inerte. Por fim os olhos se destacam da Terra e se elevam para o céu; se a vontade de Deus não o retém no solo, ele sobe lentamente e se sente flutuar no espaço, o que é uma sensação deliciosa. Então a lembrança da vida que deixa lhe aparece com uma clareza as mais das vezes desoladora, mas outras vezes consoladora. Falo-te aqui do que experimentei, eu que não sou um mau Espírito, mas que não tenho a felicidade de ocupar um grau elevado. A gente se despoja de todos os preconceitos terrenos; a verdade aparece em toda a sua luz; nada atenua as faltas, nada oculta as virtudes; vê a sua alma tão claramente quanto num espelho; a gente procura entre os Espíritos os que foram conhecidos, porque o Espírito se apavora no seu isolamento, mas eles passam sem se deterem; não há comunicações amigas entre os Espíritos errantes; aqueles mesmos que se amaram não trocam sinais de reconhecimento; essas formas diáfanas deslizam e não se fixam; as comunicações afetuosas são reservadas aos Espíritos superiores, que trocam ideias. Quanto a nós, nosso estado transitório só serve para o nosso adiantamento, desde que nada nos distrai e as únicas comunicações que nos são permitidas são com os humanos, porque têm um fim útil e mútuo, que Deus prescreve.

     Os maus Espíritos também contribuem para a melhoria humana: servem para as provas; quem os resiste, conquista méritos. Os Espíritos que dirigem os homens são recompensados por um grande abrandamento de suas penas. Os Espíritos errantes não sofrem a ausência de comunicações entre si, pois sabem que se encontrarão; têm apenas mais ardor para chegar ao momento em que as provas realizadas lhes darão o objeto de sua afeição, que não pode ser expressa, mas neles fica latente. Nenhum dos laços que contraímos na Terra é quebrado; nossas simpatias serão restabelecidas na ordem em que tiverem existido, mais ou menos vivas, conforme o grau de calor ou de intimidade que tiverem tido.              

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