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ESTUDO SOBRE A MEDIUNIDADE

(Mensagem do Espírito Georges - Revista Espírita de 1865 e observação de Allan Kardec)

     Não se devem erigir em sistema os ditados mal concebidos e mal expressos, que desnaturam absolutamente a inspiração medianímica, se é que esta tem existido. Deixo a outros o trabalho de explicar a teoria do progresso, porque é inútil que todos os médiuns tratem do mesmo assunto. Vou ocupar-me da medianimidade, esse tema inesgotável de pesquisas e estudos.

     A medianimidade é uma faculdade inerente à natureza do homem. Nem é uma exceção, nem um favor; faz parte do grande conjunto humano e, como tal, está sujeita às variações físicas e às desigualdades morais; sofre o dualismo terrível do instinto e da inteligência. Possui seus gênios, sua multidão e seus abortos.

     Jamais se devem atribuir aos Espíritos, e refiro-me aos Espíritos elevados, esses ditados sem fundo nem forma, que aliam à sua nulidade o ridículo de serem assinados por nomes ilustres. A medianimidade séria só investe cérebros providos de uma instrução suficiente ou, pelo menos, provados pelas lutas passionais. Os melhores médiuns são os únicos a receber o afluxo espiritual; os outros sofrem apenas o impulso fluídico material, que lhes arrasta as mãos, sem fazer produzir a sua inteligência outra coisa senão o que esta contém em estado latente. É preciso encorajá-los a trabalhar, mas não iniciar o público em suas elucubrações.

     As manifestações espíritas devem ser feitas com a maior reserva; e se for indispensável para a dignidade pessoal, acumular todas as provas de uma perfeita boa-fé em torno das experiências físicas, ao menos importa tanto preservar as comunicações espirituais do ridículo que muito facilmente é ligado às ideias e aos sistemas assinados irrisoriamente por nomes célebres, que são e continuarão sempre estranhos a essas produções. Não ponho em causa a lealdade das pessoas que, recebendo o choque elétrico, o confundem com a inspiração medianímica. A ciência tem os seus pseudossábios, a medianimidade os seus falsos médiuns, na ordem espiritual, bem entendido.

     Tento aqui estabelecer a diferença que existe entre os médiuns inspirados pelos fluidos espirituais e os que agem apenas sob o impulso do fluido corporal, isto é, os que vibram intelectualmente e aqueles cuja ressonância física só conduz à produção confusa e inconsciente de suas próprias ideias, ou de ideias vulgares e sem elevação.

     Existe, pois, uma linha de demarcação perfeitamente traçada entre os médiuns escreventes: uns obedecendo à influência espiritual, que só os faz escrever coisas úteis e elevadas; outros, sofrendo a influência fluídica material, que age sobre os seus órgãos cerebrais, como os fluidos físicos agem sobre a matéria inerte. Esta primeira classificação é absoluta, mas admite uma porção de variedades intermediárias. Aqui indico os principais traços de um estudo importante, que outros Espíritos completarão. Somos os pioneiros do progresso terreno e solidários uns com os outros. Formamos na falange espírita o núcleo do futuro.

OBS.: A frase na qual o Espírito diz que deixa a outros o trabalho de explicar a teoria do progresso, é motivada por diversas perguntas que tinham sido propostas sobre o assunto na sessão. Quando diz que a mediunidade é um tema inesgotável de pesquisas e estudos, está perfeitamente certo.

     Posto que o estudo desta parte integrante do Espiritismo esteja longe de ser completo, já estamos longe do tempo em que se acreditava que bastasse receber um impulso mecânico para se dizer médium e crer-se apto para receber comunicações de todos os Espíritos. Isto equivaleria a pensar que o primeiro que toque uma pequena ária ao piano deve ser necessariamente um excelente músico. O progresso da ciência espírita, que diariamente se enriquece com novas observações, nos mostra a quantas causas diferentes e influências delicadas, que se não suspeitava, são submetidas as relações inteligentes com o mundo espiritual. Os Espíritos não podiam tudo ensinar de uma vez. Mas como hábeis professores, à medida que as ideias se desenvolvem, entram em maiores detalhes e desdobram os princípios que, dados prematuramente, não teriam sido compreendidos e teriam feito confusão em nosso pensamento.

     A mediunidade exige, pois, um estudo sério da parte de quem quer que veja no Espiritismo uma coisa séria. À medida que as molas desta faculdade forem melhor conhecidas, estaremos menos expostos a decepções, porque se saberá o que ela pode dar e em que condições poderá fazê-lo. E, quanto mais houver pessoas esclarecidas sobre este ponto, haverá menos vítimas do charlatanismo.  (Allan Kardec).                      

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