Vila no interior da Alemanha - Foto ip

FATALIDADE MATERIAL

(Comunicação do Espírito São Luís - Revista Espírita de 1858)

     Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; escolhendo-a, cria-se uma espécie de destino que não pode conjurar, desde que se submeteu. Falo das provas físicas. Conservando seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, o Espírito é sempre livre de suportar ou repelir a prova. Vendo-o fraquejar, um bom Espírito pode vir em seu auxílio, mas não pode influir sobre ele de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe e exagerando o perigo físico, pode abalá-lo e apavorá-lo, mas nem por isso a vontade do Espírito encarnado fica menos livre de qualquer entrave.

     Para um homem que está na iminência de ser vítima de um acidente, os bons ou os maus Espíritos não podem sugerir senão pensamentos bons ou maus, conforme sua natureza. O acidente está marcado no destino do homem. Quando tua vida é posta em perigo, é sinal que tu mesmo o desejaste, a fim de te desviares do mal e te tornares melhor. Quando escapas ao perigo, ainda sob a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos fortemente, conforme a ação, mais ou menos forte, dos bons Espíritos, em te tornares melhor. Sobrevindo um mau Espírito (e digo mau subentendendo o mal que nele ainda está), pensas que igualmente escaparás a outros perigos e novamente te entregarás às tuas paixões desenfreadas.

     Tu mesmo escolheste a tua prova; quanto mais rude for e melhor a suportares, tanto mais te elevas. Os que passam a vida na abundância e na felicidade humana são Espíritos fracos, que ficam estacionários. Assim, o número dos infortunados ultrapassa de muito o dos felizes deste mundo, de vez que em geral os Espíritos escolhem a prova que lhes dê mais frutos. Eles veem muito bem a futilidade de vossas grandezas e de vossos prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada, mesmo quando não o seja por meio da dor.

     Quando um homem passa por uma ponte que deve cair não é um espírito que o impele, é o instinto de seu destino que o leva para ela. As circunstâncias naturais fazem a ponte desmoronar. A matéria tem em si as causas da destruição. No caso vertente, se o Espírito tiver necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para mover as forças materiais, recorrerá antes à intuição espiritual. Assim, devendo desmoronar-se aquela ponte, tendo a água desajustado as pedras que a compõem ou a ferrugem roído as correntes que a sustentam, o Espírito, digamos, insinuará antes ao homem que passe por esta ponte; não irá romper uma outra no momento em que ele passa. Aliás, tendes uma prova material do que digo: seja qual for o acidente, ocorre sempre naturalmente, isto é, as causas se ligam uma às outras e o produzem insensivelmente.

     Antes de encarnar-se, o Espírito tem conhecimento de todas as fases de sua existência; quando estas têm um caráter saliente, ele conserva uma espécie de impressão em seu foro íntimo e tal impressão, despertando ao aproximar-se o instante, torna-se pressentimento.         

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