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LINCOLN E SEU ASSASSINO

(Análise de uma comunicação do espírito de Abraão Lincoln recebida pelo médium de Ravenswood - Revista Espírita de 1867)  

     Quando Lincoln1 voltou de seu atordoamento e despertou no mundo dos Espíritos, ficou muito surpreendido e perturbado, porque não tinha a menor ideia de que estivesse morto. O tiro que o feriu suspendeu instantaneamente toda sensação e não compreendeu o que lhe havia acontecido. Esta confusão e essa perturbação, contudo, não duraram muito. Ele era bastante espiritualista para compreender o que é a morte e, como muitos outros, não ficou admirado da nova existência para a qual fora transportado. Viu-se cercado por muitas pessoas que sabia de há muito tempo mortas e logo soube a causa de sua morte. Foi recebido cordialmente por muita gente por quem tinha simpatia. Compreendeu sua afeição por ele e, num olhar, pôde abarcar o mundo feliz no qual tinha entrado.

     No mesmo instante experimentou um sentimento de angústia pela dor que devia experimentar sua família, e uma grande ansiedade a propósito das consequências que sua morte poderia ter para o país. Seus pensamentos o trouxeram violentamente à Terra.

     Tendo sabido que Booth2 estava mortalmente ferido, veio a ele e curvou-se sobre o seu leito de morte. Nesse momento Lincoln tinha recuperado a perfeita consciência e a tranquilidade de Espírito, e esperou com calma o despertar de Booth para a vida espiritual.

     Booth não ficou espantado ao despertar, porque esperava a morte. O primeiro Espírito que encontrou foi Lincoln; olhou-o com muita afoiteza, como se se glorificasse do ato que havia praticado. O sentimento de Lincoln a seu respeito, entretanto, não respirava nenhuma ideia de vingança, muito ao contrário; mostrava- se suave e bom e sem a menor animosidade. Booth não pôde suportar este estado de coisas, e o deixou cheio de emoção.

     O ato que cometeu teve vários móveis; primeiro, sua falta de raciocínio, que lho fazia considerar como meritório e, depois, seu amor desregrado aos elogios que o tinham persuadido que seria cumulado de elogios e olhado como um mártir.

     Depois de ter vagado, sentiu-se de novo atraído para Lincoln. Às vezes enchia-se de arrependimento, outras vezes seu orgulho o impedia de emendar-se. Entretanto compreendia quanto o seu orgulho era vão, sabendo sobretudo que não pode esconder, como em vida, nenhum dos sentimentos que o agitam, e que seus pensamentos de orgulho, de vergonha ou de remorso são conhecidos dos que o rodeiam. Sempre em presença de sua vítima e não receber dela senão sinais de bondade, eis o seu estado atual e sua punição. Quanto à Lincoln, sua felicidade ultrapassa o que poderia ter esperado.

Nota do compilador: 1 - Abraham Lincoln (1809-1865). Eleito presidente dos USA em 1860, foi reeleito em 1864. Emancipou os escravos. Foi assassinado logo após os nortistas vencerem a guerra de secessão. 2 - John Wilkes Booth = (1838-1865) - ator norte-americano, assassino de Abraham Lincoln.

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